Casas mobiladas prontas a habitar: nova tendência a aterrar em Portugal

Investir no mobiliário e decoração de uma casa torna o produto mais atrativo. Players de setor analisam força deste conceito.
16 out 2023 min de leitura

Uma casa mobilada e decoradapronta a habitar, é uma forma de valorizar um produto imobiliário, seja para comprar ou arrendar. Investidores, promotores e mediadores, arquitetos e home-stagers estão “de olho” nesta tendência internacional em Portugal que, para já, está muito focada num público de nicho e em modelos de negócio de arrendamento de média duração, apartamentos turísticos e/ou compra e venda de casas no segmento premium e luxo. Um projeto chave na mão permite economizar tempo e dinheiro, pelas suas diversas vantagens, e pode facilitar a tomada de decisão. Afinal, quem procura este tipo de soluções no mercado português? E quais são as mais-valias? O idealista/news ouviu vários players do setor sobre o tema.  

  1. Estrangeiros e nómadas são quem mais procura estas soluções
  2. Promoção imobiliária cada vez mais atenta ao "nicho"
  3. Desenhar uma casa a pensar no design e decoração? Sim
  4. As mais-valias de uma casa pronta a habitar

“A tendência de utilizar a habitação como um serviço, conhecida como ‘house-as-a-service’, está a tornar-se mais popular em vários países, refletindo uma mudança no comportamento de consumo. A preferência pelo minimalismo e pela experiência em vez da posse material. Essa tendência é evidente na maneira como os nómadas digitais escolhem viver - de forma mais simples e leve, valorizando a praticidade em relação à propriedade de bens materiais”, começa por explicar Catarina Diniz, Head of Business & Strategy na Staging Factory.

Segundo a responsável, a procura por este tipo de casas tem vindo a crescer, mas tudo depende do público e segmento – se estudantes, nómadas digitais ou profissionais em trabalhos temporários, mais focados no arrendamento (de curta ou média duração); ou investidores e promotores, que investem no mobiliário e decoração para terem um produto mais atrativo, “pronto-a-render”.

Cristina Duarte, proprietária de um apartamento para arrendar totalmente mobilado na zona da Lapa-Estrela, em Lisboa, confirma que os seus inquilinos valorizam sempre o facto de a casa estar pronta para viver, com tudo o que necessitam, estando disponíveis para pagar um 'plus' no valor da renda da casa, que faz compensar o investimento em decoração. "Tendencialmente são estrangeiros, nómadas digitais ou quadros de empresas", conta ao idealista/news. Mas também há jovens portugueses interessados neste tipo de produto, tal como Filipa Reis que, com o seu namorado João, decidiu arrendar um apartamento mobilado, quando se instalaram nos arredores do Porto, permitindo-lhes "poupar esse gasto de mobilar uma casa completa e a chatice de uma mudança futura para outra casa, aqui perto ou noutra zona do país", partilha.

Para André Rodrigues da Silva, diretor geral e arquiteto na Other Fields, querer viver numa casa chave na mão, pronta a habitar de um dia para o outro, ainda não pode ser “categorizada como uma tendência dominante”. Contudo, assume ser “inegável que existe uma procura crescente por este tipo de oferta no mercado imobiliário, especialmente em modelos de negócio de arrendamentos de média duração e apartamentos turísticos”.  Isto, é, embora não seja uma trend “plenamente estabelecida”, a procura por casas já mobiladas ou decoradas está a crescer e a “influenciar a apresentação e comercialização das propriedades no mercado imobiliário”, ganhando expressão, sobretudo, nos grandes centros urbanos.

A mediadora imobiliária Porta da Frente refere que até ao momento, no seu segmento, comprar/arrendar uma casa já mobilada/decorada, “nunca foi uma tendência”. “É incomum venderem-se imóveis mobilados, com a exceção de algum projeto particular de decoração que constitua um dos ‘selling’ points da casa. Dos nossos 28 anos de experiência do mercado, um cliente raramente tem o requisito de casa mobilada, acontecendo ocasionalmente apaixonar-se pela decoração do imóvel e fazer uma proposta”, explica João Cília, CEO Porta da Frente Christie’s, ao idealista/news. No entanto, tendo em conta da existência de diversos projetos turísticos que oferecem este serviço de decoração, reconhece ser “expectável“ que, nestes casos "as unidades venham devidamente equipadas e totalmente mobiladas”.

Estrangeiros e nómadas são quem mais procura estas soluções

A verdade é que o mercado parece seguir ainda a diferentes velocidades nesta matéria. Se em alguns segmentos de mercado, a procura por este tipo de ativos ainda não é significativa, noutros já é uma condição sine qua non, como é o caso dos empreendimentos residenciais de gama alta. José Cardoso Botelho, CEO da promotora Vanguard Properties, confirma que, nos segmentos mais elevados, nomeadamente, premium e luxo, esta é uma linha de negócio crescente. “E ainda mais, quando estamos a falar de clientes estrangeiros, profissionalmente ativos em que o tempo é sempre escasso”. Segundo o responsável, no segmento de mercado onde atua, o perfil de investidor que procura este tipo de casa é “claramente” estrangeiro, “não só porque em geral dispõe de maior capacidade económica e financeira como, desconhecendo normalmente o país, é mais fácil contratar alguém que trate de tudo de A a Z”.

Catarina Diniz também não tem dúvidas sobre o perfil de investidores que mais tem interesse neste tipo de casas. No caso de investidores em imobiliário, profissionais temporários ou nómadas digitais, “ainda são os estrangeiros”. E este tipo de compradores, pelo facto de não se encontrarem permanentemente em Portugal "acabam por preferir adquirir uma casa já mobilada, pronto-a-arrendar ou pronta-a-habitar”, indica a home-stager.

André Rodrigues da Silva, da Other Fields partilha da mesma opinião. Refere que, neste momento, e no caso do arrendamento, este tipo de casa é procurado maioritariamente por estrangeiros, “em particular quadros superiores de empresas multinacionais que vêm trabalhar para Portugal ou Europa e necessitam de uma casa por um período de cerca de um a dois anos”. Além disso, “há ainda uma procura considerável, especialmente para apartamentos turísticos”.

No caso dos projetos turísticos chave na mão, a Porta da Frente adianta que conta praticamente “com a mesma fatia de portugueses e estrangeiros a fechar negócio”, mesmo como investidores. Os portugueses procuram um “rendimento extra”, já os cidadãos brasileiros, do Reino Unido e Alemanha, por exemplo, procuram rendimento e, além disso, estadias no país.

Promoção imobiliária cada vez mais atenta ao "nicho"

Na Vanguard Properties, desde há “bastante tempo” que se investe neste nicho. No entanto, José Cardoso Botelho admite que, no setor em geral, já se investe “alguma coisa, mas ainda de forma incipiente, exceto talvez no triângulo dourado do Algarve”. Além disso, a variação de preço entre uma casa vazia VS casa já decorada e pronta a habitar “pode ser muito significativa em função do tipo de decoração pretendida”. “No geral, de acordo com a nossa experiência, o valor mínimo de decoração ronda os 1.500 euros por metro quadrado (m2), podendo atingir os 8.000 euros por m2”, detalha o promotor.

“Há uns anos, os promotores imobiliários apenas investiam no típico andar-modelo que servia de montra para todo o empreendimento. Atualmente temos cada vez mais promotores a investir neste nicho como forma de valorizar o produto imobiliário. Uma casa bem mobilada e bem decorada para venda atrai mais e melhores clientes e acaba por ter um valor superior. Por outro lado, há promotores a investir no mercado da venda com rendimento garantido. Ou seja, investem no mobiliário e decoração pata terem um produto mais atrativo e pronto a arrendar, ou seja, pronto arender”, explica Catarina Diniz.

De acordo com a fundadora da Staging Factory, especialista neste tipo de intervenções, há cada vez mais promotores a trabalhar com empresas de staging, design e decoração de interiores para execução deste tipo de projetos. “Um promotor imobiliário valoriza muito a economia de recursos e a qualidade de um resultado final que garanta a optimização do espaço do imóvel e a maximização do valor e da rapidez da comercialização”, diz.

A especialista esteve envolvida em vários exemplos de projetos chave na mão cujo objetivo era mobilar e decorar integralmente imóveis para efeitos de venda e arrendamento. O mais recente desafio deste tipo que desenvolveu consistiu em mobilar e decorar oito apartamentos em Évora para o mercado do arrendamento média e longa duração.

“A maioria dos projetos que desenvolvemos são chave na mão. Promotores imobiliários, fundos de investimento, grupos hoteleiros ou investidores estrangeiros preferem trabalhar desta forma. Estes últimos optam essencialmente por projetos chave na mão já que se encontram a residir fora do país e querem chegar com a casa já mobilada, decorada e por vezes totalmente equipada com loiças e roupas de forma a estar totalmente pronta-a-habitar ou pronta-a-rentabilizar”, sublinha a profissional.

O arquiteto André Rodrigues da Silva adianta ainda que, em geral, observa-se uma tendência para, “no mínimo”, recorrer ao home-staging. Além disso, “estão a surgir produtos híbridos nos quais o promotor cria um apartamento modelo e posteriormente oferece um pacote de “decoração chave na mão" para venda ao potencial cliente. Temos colaborado com diversos promotores que seguem esta abordagem”, conta ao idealista/news. Relativamente aos preços deste tipo de serviço, para arrendamento, diz ser expectável um acréscimo de 20% a 30% na renda, dependendo da categoria do imóvel; e em termos de venda, pode-se considerar um aumento de preço entre 15% a 20%.

João Cília, da Porta da Frente, confirma que a promoção imobiliária já investe neste mercado de projetos turísticos há bastante tempo, de norte a sul do país. “Especialmente desde 2011, em que Portugal tem crescido exponencialmente no setor do turismo, que se criou este espaço de investimento para os big players nacionais e internacionais (criação de hotéis, pousadas, apartamentos turísticos, etc). Nas regiões onde operamos, temos empreendimentos turísticos em Lisboa, Cascais e Alentejo, que oferecem exatamente este serviço de chave na mão. Além de ser uma obrigação legal, é um facilitador para o investidor que pretende monetizar o seu imóvel”, explica a mediadora.

Em 2021, Pedro d’Orey, sócio fundador da QuartoSala, anunciava numa entrevista ao idealista/news o lançamento de um novo serviço de curadoria precisamente pensado nesta linha, focado no trabalho em parceria com os promotores imobiliários para decorar os andares modelo dos seus empreendimentos. A ideia deste serviço de aconselhamento nasceu em plena pandemia, com o intuito de melhorar o aspeto visual dos projetos e a experiência de quem visita. 

“A grande vantagem é podermos associar o nosso know-how na área dos projetos de design de interiores, e a nossa experiência no atendimento desta tipologia de clientes de alto padrão, à necessidade dos promotores imobiliários de adaptar a sua oferta a esta nova realidade. Nós sabemos como os clientes querem viver as suas casas e podemos trazer esse conhecimento para a fase de promoção do empreendimento. É uma experiência geradora de negócios”, explicava, na altura.

Relativamente à compra deste tipo de casas para colocar no arrendamento ou alojamento local, a Porta da Frente admite que, no caso de imóveis avulso não sente essa preferência ligada a oportunidades de investimento. “Ou seja, não temos clientes que nos solicitam um imóvel mobilado para colocar no mercado de arrendamento de longa duração, pois geralmente preferem decorar a gosto pessoal ou associar-se a um projeto exterior de decoração. Nos empreendimentos turísticos, temos sim muitos investidores a apostarem tanto no alojamento local como arrendamento de maior duração”, frisa.

“Há muito pouco investimento em Portugal de compra de habitação para arrendamento. No caso do alojamento local, só haverá unidades decoradas e mobiladas. Para o arrendamento tradicional de longo prazo, pode não fazer sentido investir na decoração, pois normalmente o arrendatário tem a sua própria mobília”, acrescenta José Cardoso Botelho.

Desenhar uma casa a pensar no design e decoração? Sim

Para o arquiteto da Other Fields, na fase de inicial de desenho e planeamento das casas, a abordagem holística é cada vez mais fundamental. “É possível, inclusive, começar com a conceção de uma ideia de lifestyle, criar um moodboard de interiores e, a partir daí, abordar a arquitetura, invertendo em certa medida o processo convencional. Esta abordagem é particularmente relevante ao colaborar com promotores imobiliários que possuem equipas de marketing robustas e visam oferecer produtos distintos e atrativos para um público-alvo específico, ávido por um estilo de vida bem definido”, explica.

“Todos os elementos que compõem essa vivência devem ser considerados desde o início e interligados de forma sinérgica. Isso significa que o design e a decoração devem ser vistos em conjunto com outros aspetos importantes, como funcionalidade, eficiência energética, sustentabilidade, tecnologia integrada e bem-estar dos habitantes. A escolha do papel de parede pode ser tão relevante quanto a seleção do sistema de climatização para garantir uma vivência confortável e esteticamente agradável”, acrescenta o responsável.

Projetos com equipas multidisciplinares são, por isso, cada vez mais comuns. José Cardoso Botelho conta que na Vanguard Properties o desenvolvimento de um projeto imobiliário contempla 12 fases. “Uma vez definidas as métricas e segmento para um determinado projeto, logo na fase dois, começam a intervir equipas de arquitetura, engenharia, lifestyle e conceito”, refere. Portanto, desenham-se cada vez mais as casas do ponto de vista de como ficará o design e decoração, e o responsável acredita que isso será cada vez mais tendência “junto dos colegas de profissão”.

Esta realidade é confirmada pela Porta da Frente, segundo a mediadora, uma das principais evoluções do mercado imobiliário na última década “foi exatamente a criação de equipas multidisciplinares em cada projeto que entra no mercado”. “Tanto para projetos de exploração turística como residência permanente, há equipas compostas por várias áreas de expertise – inclusivamente a mediação imobiliária – que contribuem para a criação de um produto atraente e de qualidade”, salienta a empresa.

Catarina Diniz lembra que que as casas mobiladas e decoradas “atraem mais potenciais clientes e mais e melhores propostas de compra ou arrendamento”. “A maioria das pessoas tem dificuldade em visualizar o potencial de um espaço vazio. Casas vazias parecem mais pequenas, frias e sem personalidade. Por outro lado, uma casa mobilada é mais atrativa e convidativa, permitindo ao potencial comprador ou inquilino ver como pode viver o espaço e fazê-lo sentir-se em casa. Por outro lado, o comprador ou arrendatário pode preferir adquirir ou arrendar a casa já totalmente pronta a habitar evitando gastos e trabalho acrescido”, resume a especialista em home staging.

“Num segmento premium e de luxo é mais um fator diferenciador, aumentando a liquidez do produto. Ou seja, tudo o que torne o produto mais diferenciado, ajuda na venda ou no arrendamento”, confirma o CEO da promotora Vanguard Properties.

As mais-valias de uma casa pronta a habitar

Quando se trata de vender ou arrendar um imóvel, a primeira impressão é fundamental, e para isso é importante garantir um equilíbrio perfeito entre estética e funcionalidade. “A casa tem que conquistar o cliente à primeira vista, parecer funcional e permitir uma boa circulação.  Criar um ambiente convidativo e acolhedor que agrade à maioria dos potenciais compradores ou inquilinos é por isso fundamental. Para isso é necessário utilizar cores neutras e peças de mobiliário de design simples. Esta abordagem cria um ambiente elegante e contemporâneo que agrada a uma ampla gama de gostos. Cores claras ampliam visualmente o espaço e realçam a beleza da luz natural”, explica Catarina Diniz.


Projeto e foto Staging Factory - www.stagingfactory.pt

Para a home stager, é ainda essencial incluir as peças essenciais que todos precisam, como camas confortáveis, mesas de cabeceira, mesa de refeição, cadeiras, móveis para a TV e sofá. “Estas peças garantem a base funcional do espaço, permitindo aos futuros residentes visualizarem como podem viver e aproveitar o espaço. É importante não personalizar nem sobrecarregar demasiado o espaço permitindo que cada um o adapte à sua maneira”, indica.

Segundo a fundadora da Staging Factory, a grande mais valia de um projeto chave na mão é a conveniência e economia: “tempo, dinheiro e chatices”. A especialista apresenta oito grandes mais valias das casas prontas a habitar:

  1. Conveniência: o projeto é entregue completamente pronto, o que significa que o cliente não precisa de se preocupar com a gestão dos diferentes intervenientes no processo.
  2. Economia de tempo: como o projeto é gerido de forma centralizada, o cliente economiza tempo, uma vez que não lida com imprevistos ou dificuldades de execução.
  3. Redução de riscos: o fornecedor assume a responsabilidade por todas as etapas do projeto, incluindo a resolução de problemas e a garantia do resultado final conforme acordado.
  4. Orçamento controlado: o cliente recebe um orçamento fechado para o projeto completo, o que garante o controle de custos e evita surpresas com custos adicionais.
  5. Qualidade garantida: o fornecedor do serviço chave na mão geralmente tem experiência e expertise em projetos semelhantes, o que garante maior qualidade e profissionalismo.
  6. Responsabilidade única: o cliente tem um único ponto de contacto para todas as questões relacionadas ao projeto, facilitando a comunicação e a resolução de problemas.
  7. Pronto a usar: o cliente pode começar a usar o projeto imediatamente após a conclusão, sem a necessidade de ajustes adicionais.
  8. Redução de stress: ao transferir a responsabilidade para o fornecedor, o cliente reduz significativamente o stress e a carga de trabalho associados à gestão do projetos
FONTE: IDEALISTA
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