A atividade dos bancos no mercado de crédito está a entrar num novo ciclo de dinamização. Após um período de contenção marcado por taxas de juro elevadas e maior prudência por parte das instituições financeiras, começa agora a desenhar-se um cenário mais favorável à concessão de financiamento. Esta mudança resulta de uma combinação de fatores, entre os quais se destacam a estabilização económica, a descida progressiva das taxas de juro e o reforço de políticas públicas de incentivo à habitação e ao investimento empresarial.

Os bancos mostram-se confiantes de que a procura de crédito irá crescer nos próximos meses, acompanhando a retoma da confiança por parte das famílias e das empresas. Esta perspetiva surge refletida nos resultados do inquérito recente do Banco de Portugal às instituições financeiras, que indicam uma expectativa positiva para o segundo trimestre do ano.

Empresas voltam a procurar crédito

O segmento empresarial deverá ser um dos principais motores desta nova fase de crescimento na concessão de crédito. Os dados revelam que tanto as grandes empresas como as pequenas e médias empresas (PME) demonstram maior interesse em recorrer a financiamento bancário, particularmente para suportar projetos de investimento a médio e longo prazo.

A melhoria das condições de financiamento é vista pelas empresas como uma oportunidade para reforçar a sua competitividade, investir em inovação, modernizar processos produtivos e expandir operações. Para os bancos, isto representa não só um aumento das operações de crédito, mas também uma diversificação da carteira de clientes, reduzindo o risco agregado da atividade bancária.

Apesar da tendência de crescimento, há ainda fatores de contenção, como o recurso à autofinanciamento através da geração interna de capital, especialmente entre empresas mais sólidas. Ainda assim, espera-se que o nível geral das taxas de juro continue a desempenhar um papel determinante na decisão de investimento por via de crédito bancário.

Crédito à habitação: jovens impulsionam a procura

O crédito à habitação é outro dos segmentos com maior dinamismo no atual contexto. Os bancos registam um aumento significativo da procura por parte dos jovens, impulsionado pelas recentes medidas lançadas pelo Governo para facilitar a compra da primeira casa.

Entre os principais incentivos encontram-se a isenção de IMT (Imposto Municipal sobre Transações Onerosas de Imóveis), a isenção de Imposto de Selo e a disponibilização de uma garantia pública que cobre até 15% do valor da aquisição. Estas medidas criaram uma nova janela de oportunidade para os jovens com menos de 35 anos, que enfrentavam anteriormente maiores barreiras no acesso ao crédito.

Apesar da elevada adesão, surgem agora dúvidas sobre o reforço da dotação destinada à garantia pública, uma vez que este depende da publicação de um relatório do Banco de Portugal, que até ao momento não está agendado. Esta indefinição poderá limitar temporariamente o número de novos contratos de crédito à habitação com garantia estatal, mas o interesse dos jovens permanece elevado.

Flexibilização dos critérios de concessão

Um dos fatores que mais influenciará a evolução do crédito bancário nos próximos meses será a alteração dos critérios de concessão por parte dos bancos. Os inquéritos realizados apontam para uma tendência de flexibilização moderada, tanto no crédito concedido a empresas como no atribuído a particulares.

Este alívio dos critérios deverá refletir-se na aceitação de perfis de risco mais diversificados, bem como em exigências de entrada menos apertadas, especialmente no que toca ao crédito à habitação. Esta abertura, no entanto, continuará a ser feita de forma prudente, com análise detalhada da capacidade financeira dos clientes, para evitar riscos sistémicos no setor bancário.

A conjugação entre maior apetência dos bancos para conceder crédito e o aumento da confiança por parte dos clientes poderá criar um ciclo virtuoso que estimule a economia em várias frentes.

Taxas de juro: motor da retoma no crédito

As taxas de juro continuam a ser um elemento central na decisão de conceder ou contrair crédito. A expectativa de cortes nas taxas de referência por parte do Banco Central Europeu está a provocar um ajustamento progressivo nas condições de financiamento oferecidas pelos bancos.

A descida das taxas de juro reduz os encargos associados aos empréstimos, tornando-os mais atrativos tanto para empresas como para consumidores. Além disso, em conjunto com políticas fiscais favoráveis, este contexto pode criar um ambiente de crescimento económico mais sólido, com efeitos positivos na sustentabilidade do setor bancário e no acesso generalizado ao crédito.

Papel estratégico dos bancos na economia

Os bancos desempenham um papel crucial na recuperação económica ao facilitarem o acesso ao crédito, promovendo o investimento e o consumo. A retoma da atividade de concessão de crédito surge como um sinal positivo num momento em que o país procura consolidar a estabilidade económica e impulsionar o crescimento.

A evolução dos próximos meses dependerá da estabilidade macroeconómica, da continuidade das políticas de incentivo e da capacidade do setor bancário de responder com responsabilidade às necessidades da sociedade. Se estes fatores se mantiverem alinhados, tudo indica que os bancos poderão cumprir a sua missão de financiar a economia de forma eficiente, equilibrada e sustentável.

FONTE: SUPERCASA